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21/08/2020

A casa e o morar pós-pandemia do covid-19

A casa e o morar pós-pandemia do covid-19

O isolamento social e as restrições impostas para convivermos em sociedade, introduziu novos hábitos que impactaram diretamente em nossos lares. O restaurante passou a ser a cozinha, o escritório passou a ser os quartos e/ou salas e o playground passou a ser, bom, todo lugar da casa. Esse novo olhar para os ambientes e a ressignificação do uso do espaço, gerou uma necessidade de adaptação e transformação do lar, dos comércios, dos atuais e novos empreendimentos e mesmo da cidade como um todo, impactando diretamente na forma como o arquiteto concebe um projeto e na maneira como o usuário vivencia e questiona a usabilidade e qualidade desde o micro até o macro espaço.

A arquitetura é moldada de acordo com a necessidade da sociedade no tempo presente e futuro, é a assimilação das questões sociais, naturais e urbanas de um povo e cultura, é a relação com a história de cada tradição e lugar. E como tudo que é adaptável, os impactos do COVID-19 serão traduzidos para uma nova arquitetura pós-pandemia e, pensando nessas questões, avaliamos algumas tendências que poderão ser consideradas para a concepção ao projetarmos os espaços.

 

Praticidade: Mais do que nunca as pessoas desejam uma casa prática, mais usual e fácil de limpar, mais aconchegante e mais preocupada com a rotina da família do que receber pessoas. Os espaços de usos múltiplos, que permitam diversas atividades e convívio familiar, é uma forma de praticidade no dia a dia. Outro ponto, seria a utilização de mobiliários e materiais que sejam mais simples de manutenção e limpeza, além de permitir maior conforto e flexibilidade nos ambientes e flexibilização dos usos.

 

Casa-Escritório: Já era uma tendência antes da pandemia, hoje esse processo é o mais impactante na vida das pessoas, que estão sendo “obrigadas” a fazer o trabalho em casa - home office. Muito se fala da qualidade de vida e saúde daqueles que estão adaptando seus quartos, salas e cozinhas para poderem se adequar à essa nova rotina de trabalho. A ausência de um sentimento de finalizar o horário comercial e começar o horário de lazer e descanso com a família, está afetando muito aqueles que não têm um espaço destinado para seu ofício. Com isso, devemos pensas nos espaços planejados, mobiliários adequados para ergonomia e uma internet boa, considerando ainda que muitas famílias precisam de mais de um espaço de escritório, pois geralmente vários membros da família trabalham e, desta forma, precisam mais de um espaço para computador, falar ao telefone, fazer uma reunião “on line”, etc.

A partir da perspectiva de consolidação do home office por parte de muitas empresas, é provável que a diminuição da frequência no ambiente de trabalho altere também o uso das salas comerciais. O impacto nos coworkings, provavelmente será imenso, pois muitos deixarão de ter escritórios tradicionais, havendo uma reformulação dos tradicionais escritórios, que antes tinham seus funcionários em local comercial. A partir da adoção - de pelo menos parte da rotina - do home office como base principal, haverá um impacto na procura pelos coworkings, salas de reuniões e espaços compartilhados para um trabalho especifico em grupo ou mesmo uma reunião, de forma que altere a relação e a infraestrutura necessária para seus colaboradores a partir de uma nova rotina de trabalho estabelecida.

 

Delivery ou comprar pela internet: Nunca se comprou tanto sem sair de casa, desde supermercado, açougue, padaria, hortifrúti. Comércios estão sendo forçados a prestar esse tipo de serviço para não fechar as portas. Assim, começamos a avaliar qual seria a forma mais segura para receber entregas com o mínimo contato com o entregador. Talvez um passa-volumes faça parte das casas? Precisamos avaliar como teremos segurança da saúde e proteção física, pois com as mãos ocupadas e máscara no rosto, ficamos vulneráveis a assaltos.

 

Higienização: Assim que chegamos da rua ou recebermos as compras e encomendas na porta, precisamos de um local para deixar as entregas “contaminado” e nos higienizar ao entrar em nossas casas. Este espaço de chegada, onde antigamente tínhamos chapeleiras, porta guarda-chuvas ou até mesmo, como outras culturas, tirar os sapatos para entrar efetivamente em casa, passa a ser necessário. Este local, que hoje todos precisam “adaptar”, tem que ser muito bem elaborado e compacto, claro. Mas precisamos avaliar ao longo desta “nova realidade” como podemos estruturá-lo. Colocando prateleiras para sapatos, ganchos para máscaras, bolsas e sacolas, além de um aparador que auxilie neste processo de limpeza e apoio das compras.  O lavabo, ou mesmo uma pia na entrada, pode ser pensado também como uma nova possibilidade deste espaço de “higienização”.

 

Iluminação e Ventilação: Um dos principais pontos que o arquiteto deve fazer questão de priorizar em um projeto, com certeza é a entrada de luz e ventilação natural. Esses requisitos, quando bem pensados, geram ganhos fundamentais no projeto, diminuindo gastos com energia, melhorando o conforto térmico e a qualidade do ar. Com a pandemia, se tornou mais evidente a necessidade de  espaços arejados e iluminados, de forma que renove o ar, mantenha o cérebro em sintonia com o horário solar (melhora o sono a noite e a disposição e desempenho das atividades realizadas durante o dia) e funcione como um antibiótico natural. Embora isso pareça óbvio, muitas pessoas passaram a notar que a casa recebe sol ou mesmo claridade insuficiente ao longo do dia, e isso passou a ser um ponto muito importante com o uso da casa em período integral.  

 

Paisagismo: Ao longo deste isolamento dentro de nossas casas, nem precisamos comentar o quanto o verde ganha importância cada vez mais evidente nas residências e espaços públicos, pela melhora na qualidade do ar, conforto térmico e acústico. Além dessas qualidades projetuais, o jardim promove sensação de aconchego e conexão com a natureza, ao ativar os sentidos humanos pela sua beleza, cor, aroma fresco e a sensação de pisar descalço no solo e ouvir o som das folhas ao vento e pássaros cantando, sentimentos que proporcionam bem-estar e melhoram a qualidade de vida. Antes da pandemia, mesmo com nossas rotinas corridas, quase sempre nos deparávamos com praças e jardins no caminho para o trabalho, na ida ao mercado, começávamos ou terminávamos o dia levando o cachorro passear, ou praticando atividades ao ar livre, levando as crianças ao parque... o verde estava sempre presente em nossas vidas, seja de forma direta ou indireta. Bom, convenhamos, com essa história de ficar em casa, um jardim faz falta não é mesmo?! Essa valorização do paisagismo, será ainda mais influente na hora de construir uma casa, pensar um empreendimento, projetar um espaço comercial e, até mesmo, no seu cantinho do home office ou da varanda! Um espaço para as crianças brincarem, para a prática de yoga, para uma tarde refrescante e para o cultivo de uma horta (nada melhor do que verduras frescas e a qualquer hora!), que permita esta relação com a natureza.

 

Mobiliário: Como os espaços precisam ser higienizados constantemente, tecidos com menor absorção de poeiras e sujeiras e fáceis de limpar se tornam preferência. Da mesma forma, a busca por conforto e aconchego no momento de viver mais o lar, é traduzido em materiais que trazem essas características no toque e no visual, como o uso da madeira, do linho, do algodão, o tapete sob os pés e a cortina, mas sem abrir mão da fácil higienização.  Outro ponto importante é o mobiliário adequado para os novos usos incorporados, como espaços de estudo que precisam desde uma luminária correta, proporção da mesa e cadeira para as diferentes faixas etárias, mesas de trabalho com cadeiras ergonomicamente adequadas, além de móveis que tenham usos múltiplos, e que permitem adaptações aos diversos momentos da rotina da casa e da família.

 

Layout: Se dentro das casas temos alterações impactantes, nos espaços de uso coletivos e urbanos, uma nova forma de pensar o espaço vai ser primordial para se adaptar ao mundo pós-pandemia. A organização do layout será pensada de forma a manter o distanciamento recomendado de 2 metros. O que já vinha sendo empregado, agora terá maior relevância ao criar espaços mais fluidos, flexíveis, amplos e com características cada vez mais pensando na qualidade e não na quantidade. Bares e restaurantes irão diminuir sua capacidade para dispor mesas mais espaçadas e excelência no atendimento; escritórios e comércios irão priorizar circulações mais amplas e abrir mão de estações de trabalho compartilhadas, livres de divisórias, para garantir a segurança dos funcionários; ambientes de espera irão buscar um novo layout, substituindo os tradicionais sofás e cadeiras conjuntas por poltronas e mobiliários que assegurem o distanciamento. 

 

Acabamentos: A busca por revestimentos que sejam de fácil limpeza e manutenção já vinha aumentando nos últimos tempos, essa procura se intensificou com a necessidade de espaços mais limpos e saudáveis. Paredes lisas, papeis de parede laváveis, rejuntes mínimos, superfícies artificiais mais resistentes e menos suscetíveis a ranhuras que possam acumular sujeira, são alguns dos materiais que estarão ainda mais em alta daqui para frente.

 

Êxodo Urbano: Todos esses itens que citamos anteriormente permitiram e realçaram a vontade de viver na casa de campo ou de praia. Uma pesquisa realizada pela The Harris Poll - empresa especializada em realizar pesquisas - mostra que quase 40% das pessoas que vivem na cidade, consideram se mudar para local com maior qualidade de vida (Fast Company, 2020). Com a flexibilidade do home office e o conforto, isolamento e harmonia das casas de veraneio, a busca por adequações projetuais e por novos projetos estará em foco no futuro, ficando a cargo do arquiteto, proporcionar o contato com a natureza e praticidade do dia a dia, criando uma nova tendência de mercado e impulsionando até um certo efeito de êxodo urbano.

 

 

Por fim, precisamos avaliar estes impactos ao longo desta nova “normalidade” que se estabelece. A incerteza com o período de confinamento e o desenvolvimento da vacina, as ondas de instabilidade econômica, as novas ordens de restrições, as incertezas sobre os meios de contaminação e os efeitos em uma sociedade desprevenida, irão remodelar e impactar ainda mais o nosso cotidiano e a forma como vivemos os espaços. Nosso papel como arquiteto, será transformar essas mudanças e vencer os desafios, criando recursos e novos espaços para uma sociedade mais saudável e sustentável tanto para esta como para as próximas gerações.

 

 

Equipe DELARQ Projetos.

Arquitetos: Ricardo Delazaro, Débora Vitti e Carolina Rossetti.

 

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